quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Reflexões sobre o futebol 6

Quando você assiste a uma partida épica como essa entre Palmeiras e Grêmio você começa a perceber os verdadeiros interesses por trás da indústria do futebol. O Técnico Renato Portalupe (ex-jogador Renato Gaúcho) diz que o grêmio tem o melhor futebol jogado no Brasil atualmente e a maioria dos comentaristas o chama de arrogante e prepotente. Fico imaginando se ele dirigisse algum clube paulista ou carioca qual seria a reação destes mesmos comentaristas. O campeonato Carioca se arrasta com partidas pobres tecnicamente e que têm na Rede Globo (cuja sede principal é no rio de Janeiro) seu principal suporte para transmissões das partidas. Não se iludam com o porquê de estados como o Espírito Santo e os estados do Norte e Nordeste terem tantos torcedores do futebol paulista e carioca. A resposta é que o Campeonato Carioca é transmitido para esses estados pela Rede Globo cujo objetivo final é lutar por números mais robustos de audiência do IBOPE. Os comentaristas mencionados acima depois de uma partida pesada, com fortes interesses econômicos, e disputada à exaustão, recorrerem aos chavões e frases feitas típicas de pessoas ignorantes e que discutem e opinam sobre assuntos que não dominam. Veja bem não estou classificando os comentaristas de ignorantes, estou dizendo que eles normalmente, salvo honrosas exceções como o Tostão, preferem falar aquilo que o povão quer ouvir e repetem à exaustão aquilo que o povão fala. Time pipoqueiro, sem garra, mercenário, desrespeitoso com a tradição do clube e por aí vai. Em uma sociedade infantilizada, que detesta receber um não como resposta o time adversário nunca é melhor que o meu, o meu é que jogou mal. O adversário não se defende bem, é meu time que ataca mal. O time adversário não foi eficaz no ataque, a defesa do meu é que falhou. Deixa-se de se analisar aspectos fundamentais como individualidade, momento, nervosismo, preparo, tática e etc... para se ater a pequenezas do tipo, o jogador fulano ganha tanto e tem a obrigação de jogar bem o tempo todo e a ganhar todas as partidas sendo, de preferência decisivo o tempo todo. O clube tal tem uma estrutura tal e tem a obrigação de ganhar tudo o tempo todo. Repito o mantra, o povo sul-americano é um povo desprezado por seus governantes, um bando de pessoas que vêm à coisa pública como a única forma de serem miliorários, mesmo que isso tenha o empobrecimento, emburrecimento e adoecimento de toda a população como preço. Tendo essa visão sociológica as mídias colocam o futebol como um oásis em meio a uma vida dura e árida de uma população descrente de si mesma. A apropriação do clube de futebol é negligenciada e até mesmo fomentada por essa mídia que tende a valorizar o esporte mais do que ele merece. Mega promoções de torneios, mega salários dos craques, mega números de tele-espectadores, mega contratos de propaganda e publicidade, as cifras são astronômicas e é uma mega porta aberta para a manipulação e corrupção. Matérias e mais matérias promovendo rivalidades regionais, a obrigação do clube popular em contratar mega craques sem a observância de pilares fundamentais de contabilidade para os clubes, adiantamento de verbas de contratos com as mídias, deixando os referidos clubes presos a estas mídias através de dívidas financeiras não são fatos isolados, são estratégias de marketing vencedoras. Enquanto existir uma população desolada e sem esperança, enquanto esse mesmo povo eleger políticos somente preocupados com a “obesidade de suas contas bancárias”, enquanto a mídia privilegiar determinados clubes em detrimento de outros e trazer os clubes presos à ela pelas finanças estaremos fadados ao aumento do abismo entre as classes sociais e a discriminação regional.

Reflexões sobre o futebol 4

Imaginemos em uma situação hipotética que os grandes clubes jogassem todos os finais de semana e no meio de uma semana, saltando o meio da semana seguinte. Os treinadores teriam a cada 14 dias uma semana livre para desenvolver jogadas treinadas, para desenvolver sistemas táticos alternativos e fundamentalmente para descansar e recuperar jogadores desgastados. Os jogadores, por sua vez, ganhariam um ou dois dias de folga nesta semana para curtir suas famílias e desenvolver algum projeto fora das quatro linhas. A qualidade dos sistemas táticos subiria, pois os treinadores poderiam se expressar profissionalmente através de seus trabalhos, os jogadores subiriam profissionalmente pois se tornariam mais versáveis e melhor qualificados e os torcedores teriam coisas mais legais para se preocupar do que brigar e discutir sobre quem é o melhor, teriam uma folga financeira maior para acompanhar seu time do coração e despenderia uma fatia menor dos seus proventos para o futebol, promovendo uma melhora na qualidade de suas despesas. Pode parecer uma implicância chata deste blog com os custos, mas não é! Se tivéssemos um calendário melhor organizado, com jogadores menos desgastados, teríamos elencos mais enxutos e com maior qualidade, teríamos atletas e treinadores com maior satisfação no desempenho das suas atividades e uma maior qualidade no futebol. Se os clubes fossem tratados como empresas, se os clubes não fizessem loucuras contratando jogadores caros. Se as contratações fossem dentro de orçamentos coerentes e fechados, não veríamos jogadores jogando sem salários, desmotivados e/ou infelizes. Não teríamos treinadores que, obrigados por contratos a conviver com atletas com problemas pessoais em função de finanças desequilibradas dos clubes, precisem arrancar desempenho dos jogadores desmotivados para que a arrecadação do clube não caia e a situação do clube, que já é caótica, fique insustentável. Enquanto isso a T.V. enriquece com a transmissão dos jogos em horários esdrúxulos, em função do horário da novela, prejudicando a sociedade como um todo. O profissionalismo extremo do futebol eliminaria as famigeradas concentrações, pois partiríamos do pressuposto que os jogadores, sendo profissionais, depois das partidas, iriam para casa e retornariam no outro dia a tarde, por exemplo, para dar continuidade ao trabalho. Um horário de 20h00min para as partidas no meio de semana, por exemplo. O torcedor que gasta 02h00min no trajeto para casa, chegaria a casa as 00h. Até ele curtir a família, tomar banho, se alimentar e dormir teria ai 01h00min. Se ele acordar as 06h00min, ele, duas vezes por mês, dormiria 05h00min na noite, um desgaste muito menos do que quando o jogo começa as 22h00min e termina as 00h00min e ele chega a casa por volta das 02h00min. A administração do futebol deveria voltar-se para as pessoas e não por números do IBOPE, deveria voltar-se para a qualidade, e não para a quantidade, e, finalmente, deveria voltar-se para a qualidade e não para a quantidade. Este texto encontra- se publicado no blog http://trololochacalete.blogspot.com.br/