domingo, 27 de agosto de 2023

Você é o Bicho! 1

Conheci algumas pessoas que não faziam aquilo que gostavam. Algumas destas pessoas eram amargas e tristes, outras eram revoltadas e antissociais. Algumas se refugiaram nas drogas, licitas ou ilícitas, isso é irrelevante. O importante é que fugiam da realidade. Algumas destas pessoas não sabiam o que gostavam, o que queriam e muito menos o que fazer. A vida não lhes deu a livre arbítrio. Cresceram vendo seus pais seguindo o que era socialmente aceitável e lhes impondo o que deveria ou não fazer, o que deveria ou não gostar e a filtrar e censurar os seus desejos. Quando se fala em censurar desejos a primeira coisa que se pensa é em homossexualismo. Essa estreiteza de pensamento precisa acabar. O sexo é fundamental para a vida humana, mas não é tudo. Ele se insere em um contexto muito mais amplo e complexo. Ele está no rol das necessidades do nosso bicho. Ele está, ao lado da alimentação e do lazer, compondo tudo aquilo que nos faz feliz e vivo. Respeitando-se o livre arbítrio alheio, devemos respeitar e na medida do possível, satisfazer esse bicho. Você é o bicho, mas um bicho especial, um bicho que pensa! Isso faz toda a diferença! Tenha uma vida mais leve, use o seu raciocínio para satisfazer o seu bicho. Ouça a sociedade, mas mantenha a fidelidade ao bicho. Dentro de um planejamento financeiro, de uma dieta saudável, em termos de quantidade inclusive, e trabalhando por uma saúde preventiva, sem estresses ou fobias, procure ser feliz. Tudo isso parece muito óbvio, mas eu, por exemplo, demorei quase sessenta anos para conseguir fazer isso. Ainda estou engatinhando neste terreno aos cinquenta e oito anos de idade. Não se assuste se você se sentir isolado, o primeiro sinal que você está no caminho certo é o isolamento. Você incomoda, e muito! Ao invés das pessoas respeitarem e acatarem elas te isolam. Eu acho que elas se sentem questionadas pelo seu “modus vivendi”, nunca tive a resposta certa para esta questão. Certamente, dada a complexidade das origens das pessoas e suas culturas, existirão inúmeras razões para os motivos e as reações. As menos invasivas são a indiferença e o isolamento. As pessoas citadas no inicio do texto eram pressionadas a manterem uma vida que não era delas, a repetirem comportamentos que não eram seus e a desenvolver trabalhos que não lhes satisfaziam. Isso acarretou uma vida inteira de frustrações e em alguns casos levaram-nas a morte. Eu trabalhei com um senhor que morreu três meses depois da aposentadoria. Ele simplesmente ele não sabia mais viver sem o trabalho, não sabia o que gostava e muito menos o que queria. Passou uma vida inteira doutrinado e orientado pela sociedade. Fuja do estereótipo, do modelo, da doutrinação. Isso não significa que você tem que rejeitar doutrinas, ideologias ou religiões. Apenas assuma que as suas escolhas são escolhas suas. Tenha a liberdade de mudar a rota do seu dia-a-dia. Procure o que é melhor para você, respeitando a convivência com o seu semelhante evidentemente. Ouça muito, observe muito e fale apenas o necessário. Se afaste das pessoas que não respeitam suas escolhas. A sua solidão não durará muito. Você acabará, mais cedo ou mais tarde, encontrando pessoas que compartilham, pelo menos parcialmente daquilo que você acredita e pensa. Lembre-se que você deve ser a sua melhor companhia. Você é o bicho!

Um comentário:

Cláudia Cardoso disse...

Ótima reflexão. Sou uma destas pessoas "adestrada" pelo sistema, mas estou num processo de autoconhecimento, tentando resgatar o quê de fato vim fazer nesse mundo, minha real aptidão.